Humberto Campins, professor e investigador americano, especialista em asteroides, diz que tanto a proteção da Terra face à colisão de um meteorito como a travagem do aquecimento global são tarefas que devem unir o mundo inteiro
Em órbita do Sol, entre Marte e Júpiter, o asteroide 3327 Campins é um reconhecimento pelo trabalho do físico americano e estudioso do espaço, em particular destes objetos, Humberto Campins. O cientista mostra porque razão a colisão com um asteroide não deve interessar apenas aos roteiristas de Hollywood.
Físico e professor universitário americano, Humberto Campins tem-se dedicado sobretudo ao estudo de asteroides e do seu risco de colisão com a Terra
Estabelece um paralelismo entre o combate às alterações climáticas e a tentativa de proteger a Terra do impacto de um asteroide. De que forma é que estes fenómenos se relacionam?
"São ambas ameaças globais, que atingem todos os países e não apenas um ou dois, com consequências que ultrapassam os limites nacionais e, portanto, exigem uma solução global e não de um único país. Já existe uma boa base de colaboração relativamente à defesa planetária, com partilha de resultados e até de amostras recolhidas em missões espaciais. Há exemplos concretos de colaboração internacional, por exemplo entre o Japão e os EUA. Se pensarmos nas alterações climáticas, o arquipélago de Vanuatu não conseguirá sozinho fazer face a este problema, tem de ser um esforço global, em que cada país terá o seu contributo, nem que seja mostrando ao resto do mundo quais as consequências da subida do nível da água ou da mudança das temperaturas, por exemplo. Penso que a partir da colaboração internacional com vista à defesa planetária poderemos promover a abordagem às alterações climáticas. E o que aconteceu nos últimos dois anos teve o poder de nos mostrar quais são os pontos críticos, aqueles que não podem ser ultrapassados, os pontos de não retorno. Estes eventos extremos dos últimos dois a três anos, de calor, chuva, incêndios, dizem-nos que as alterações climáticas estão a chegar mais depressa e de forma mais extrema do que aquilo que prevíamos através dos nossos modelos. O que é alarmante! Temos mesmo de encontrar uma resposta rápida e mais adequada."
De qualquer modo me parece existir uma diferença significativa entre as duas situações: se por um lado sentimos as alterações climáticas, no nosso dia-a-dia, o mesmo não se passa relativamente à colisão de um meteorito com a Terra.
"Bem, eu acho que eventos excecionais, como a colisão em 2013 de um meteorito com a Terra [na Rússia], acabou por movimentar muitos fundos, pelos menos nos EUA. Com as alterações climáticas, parece estar a acontecer um pouco como aquela metáfora do sapo colocado numa panela de água a aquecer. Pensamos que temos vinte a trinta anos para atuar, mas não temos! Basta ter em conta os incêndios. Cidades no Canadá em que a temperatura não ultrapassa habitualmente os 20 graus e que chegaram aos quarenta. Acontecimentos extremos que são cada vez mais frequentes."
O que está a ser feito como preparação para a colisões de objetos celestes?
"Em setembro decorrerá uma experiência para desviar a órbita de um asteroide, por impacto."
Está prevista para 26 de setembro a colisão entre a nave DART e um asteroide. Será o primeiro teste do género, alguma vez realizado
É uma espécie de míssil, não é?
"Sim. Trata-se de uma nave espacial [DART] que terá o comportamento de um míssil. Leva câmaras a bordo para se poder acompanhar a operação. Irá atingir um sistema duplo de asteroides, em que o mais pequeno, em órbita do maior, será o que irá sofrer o impacto que será suficiente para alterar ligeiramente a órbita. Dois anos depois, uma nave da ESA irá fazer uma espécie de análise forense ao que tiver acontecido – quanto mudou a órbita, qual o tamanho da cratera."
A ideia então não é destruir o asteroide.
"Não. Para salvar a Terra de um impacto basta alterar a órbita em cerca de seis minutos."
É que em Hollywood o objetivo é sempre a destruição.
Sim, é verdade. Mas não é necessário.
Pertenceu ao Comité das Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço. Como podemos esperar uma utilização pacífica e colaborativa no espaço se há países, que até partilhavam um programa espacial, que desencadearam uma guerra na Terra?
"Entendo! A questão é que todos os países estão igualmente preocupados com a possibilidade de ocorrer o impacto de um asteroide. Não estão interessados em correr o risco de uma colisão por falta de partilha de informação, porque um telescópio americano não partilhou a deteção de um objeto com a Rússia ou vice-versa. Estou bastante otimista relativamente à [anunciada] saída da Rússia da Estação Espacial Internacional. Não estamos a disputar uma guerra no espaço e não estamos a usar armas lá em cima. E na realidade a Rússia continua a estar presente apesar de estar em guerra com o ocidente.
fonte: https://is.gd/D3xsE3
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