A situação de Brittney Griner é cada vez mais preocupante, uma vez que foi transferida para uma das piores cadeias da Rússia e os esforços dos Estados Unidos para libertar a basquetebolista, uma das melhores do país, têm-se revelado infrutíferos. Conforme recorda o jornal 'As', foi oferecida ao regime de Vladimir Putin uma troca de prisioneiros, mas nada parece convencer os russos a libertar a jogadora, de 2,06 metros e 32 anos.
Condenada a 9 anos de prisão depois de ter sido detida a 17 de fevereiro no aeroporto de Moscovo por posse de droga - foram encontrados na sua bagagem cartuchos com óleo de canábis, um produto ilegal na Rússia, que a jogadora alegou usar com fins medicinais -, Griner foi levada para uma colónia penal a cerca de 500 quilómetros da capital. Os Estados Unidos temem pela sua integridade física pois, além de ser afroamericana e homossexual, a jogadora está numa prisão terrível, uma das mais duras do sistema prisional russo.
Olga Zeveleva, socióloga da universidade de Helsínquia, especialista em condições de vida nas prisões russas, tendo feito parte do projeto 'Ecos do Gulag', contou ao jornal 'The Guardian' que as prisões da República da Mordóvia, onde se encontra a norte-americana, são "reconhecidamente terríveis, incluindo para os prisioneiros russos". "Sabe-se que ali há regimes muito duros e violações graves dos direitos humanos. É o lugar que qualquer preso quer evitar", explicou, referindo-se à colónia penal IK-2, onde se encontra Brittney Griner.
Herança de Estaline
Localizada numa zona desabitada, a quase 500 quilómetros de Moscovo, esta prisão foi construída nos anos 30 como parte dos sistemas gulag de Estaline e forma um dos maiores complexos penitenciários da Europa.
Judith Pallot, professora em Oxford, visitou o centro en 2017 explicou também ao 'The Guardian':
"Quando chegas é como se entrasses numa sociedade diferente. Parece que o tempo parou 50 anos",
Aquela especialista acredita que a jogadora norte-americana deve estar a partilhar uma cela com umas cem mulheres, num espaço reduzido.
"As prisioneiras não têm nenhuma privacidade. Não podes ter objetos pessoais, como fotografias. Tudo é estéril e triste."
As prisioneiras que ali chegam passam duas semanas em quarentena, para controlo as doenças infecciosas. Entregam as suas roupas e é-lhes entregue um uniforme e um lenço para cobrirem a cabeça, que têm de usar sempre. Tudo está escrito em russo e ninguém fala outra língua.
O dia começa às 6 da manhã, com exercícios de grupo. Depois seguem-se umas 12 horas de trabalho, basicamente de costura de uniformes do serviço penitenciário ou da força área russa.
Observadores internacionais denunciam há anos graves violações dos direitos humanos, como tortura e abusos sexuais nas prisões russas masculinas. E embora nas femininas o nível de violência não seja tão elevado, há bullying entre reclusas e violência por parte das guardas. Não há qualquer supervisão noturna e, segundo Pallot, o sistema não se foca na reabilitação, mas sim no castigo.
Membro das 'Pussy Riot' passou dois anos na colónia penal IK-2 e conta como é viver ali
"Atmosfera de ansiedade e ameaça"
Em 2013 uma das membros da banda 'Pussy Riot' que ali esteve detida durante dois anos, fez greve de forme, por causa da situação em que se encontrava. Nadezhda Tolokonnikova denunciou jornadas de 17 horas de trabalho, bem como uma "atmosfera de ansiedade e ameaça".
"Há privação permanente do sono, pressão para cumprir quotas de trabalho impossíveis, reclusas a ponto que quebrar por completo, a gritar constantemente, sem parar, ou lutando por coisas mínimas", explicou Tolokonnikova, em declarações à televisão norte-americana NBC.
"Mandaram a Griner para a pior prisão de toda a Rússia. Ali trabalha-se 16 horas por dia a cozer e a preparar uniformes. Há lesões porque o material e a maquinaria estão em más condições. São normais os espancamentos e as torturas, quase não há assistência médica. Se não estiverem a trabalhar nos uniformes as prisioneiras têm de fazer trabalhos físicos muito duros, como cavar valas ou partir blocos de gelo. Se alguém se negar, vai para uma cela de castigo, um espaço mínimo e gélido. Os barracões têm entre três a cinco casas de banho para 100 ocupantes. Não há água quente... São lugares que não mudaram desde o tempo dos gulags. As condições são de escravatura. Algumas decidem suicidar-se, o que nem sequer é fácil num sítio destes", acrescentou.
Brittney Griner na alltura do julgamento
Uma ex-prisioneira, que quis manter o anonimato, contou, por sua vez ao 'Daily Mail' que a basquetebolista norte-americana corre perigo de vida:
"Vão seguramente atacá-la durante o banho, será assaltada... O governo russo há muito que ensina ao seu povo que os norte-americanos são o inimigo da humanidade..."
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