Patógenos como o Crimeia-Congo, o vírus do Nilo Ocidental e até a dengue estão a ser transportados para fora das suas fronteiras endémicas e a espalhar-se pelo resto do mundo.
No dia 5 de agosto, as autoridades de Saúde espanholas comunicaram a morte de um homem de 51 anos, na região de El Bierzo, devido a febre hemorrágica provocada pelo Crimeia-Congo, uma infeção que se transmite principalmente através de picada da carraça do género Hyalomma. Apesar de na maioria dos casos provocar sintomas ligeiros, em algumas situações pode gerar complicações e provocar a morte.
Entre 2013 e 2022, Espanha registou um total de 12 infeções humanas por Crimeia-Congo, tendo quatro pessoas morrido. Nesse país, o patógeno foi detetado pela primeira vez em 2010.
Também o vírus do Nilo Ocidental está a ganhar terreno na Europa, e conta o jornal ‘El Mundo’ que “em 2020 provocou um surto sem precedentes no sul de Espanha”, sendo que se registaram 77 casos de infeção, dos quais quatro terão morrido.
Esse vírus, que é transmitido por picadas de mosquitos, chegou a Espanha em 2004 e tem-se disseminado por todo o mundo ao longo das últimas décadas. Contudo, estudos indicam que menos de 1% dos casos de infeção resulta em complicações neurológicas graves.
O investigador Jordi Figuerola conta ao jornal El Mundo que, este ano ainda não se detetaram mosquitos que transportem o vírus em Espanha, mas alerta que “se tem registado um aumento da quantidade de mosquitos”, sendo que em alguns locais se verificou o aumento para o dobro na população desses insetos face a 2021.
O especialista diz que apesar de em Espanha não terem sido detetados, para já, casos de vírus do Nilo Ocidental, alerta que não se pode baixar a guarda, porque “em Itália já estão a ser detetados muitos casos”.
Na última semana, o número de infeções em Itália subiu para 94, com 52 novos casos registados em apenas uma semana. O número total de mortos pelo vírus também aumentou de 5 para 7 na última semana, com cinco mortes na região de Veneto, uma em Emilia-Romagna e uma em Piemonte.
Além desses dois patógenos, os especialistas estão também a acompanhar de perto a dengue e o vírus Chikungunya, sobre o quais estão a ser detetados casos esporádicos em países europeus, devido à presença do mosquito-tigre, Aedes albopictus, que desde 2004 tem vindo a ser identificado na Europa.
Desde 2010, foram reportados 70 casos de infeção por dengue no continente, sendo que o mais recente foi detetado em França, no final de julho deste ano, tratando-se de uma pessoa que não tinha viajado para zonas de risco, pelo que se suspeita que a infeção tenha sido contraída em solo europeu.
O epidemiologista Antoni Trilla, reitor da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade de Barcelona, esclarece que o dengue é tipicamente uma doença tropical e subtropical, que na Europa se deteta principalmente em viajantes que recentemente tem estado em países onde a doença é endémica.
Contudo, explica que o vírus pode começar a circular em um país não-endémico, quando um mosquito, por exemplo, num país europeu pica uma pessoa infetada e posteriormente pica outra pessoa, transmitindo assim o vírus, que se pode disseminar pela população.
Ainda assim, Trilla aponta que o melhor transmissor da dengue é o mosquito-egípcio, Aedes aegypti, que não tem expressão na Europa e “não está presente na Península Ibérica”. Ele acredita que é muito pouco provável que venhamos a assistir a um surto dessa doença no território europeu. No entanto, as autoridades de saúde nacionais devem estar atentas e monitorizar constantemente os fluxos de patógenos, para que, a acontecerem, se possam combater os surtos de forma rápida e decisiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário